Fotógrafo: Victor Paiva |
O
Conselho Municipal de Transportes afirmou que o aumento é necessário para
manter a saúde econômico-financeira das empresas de transporte público que
atuam na cidade (Viação Vitória e Cidade Verde), ou seja, para que as contas
bancárias das empresas que exploram o comércio do transporte coletivo
mantenham-se saudáveis, os trabalhadores devem permanecer enfermos vendo seu
sangue ser sugado por parasitas que tratam a mobilidade urbana como fonte de
lucro. Isso deixa bastante evidente o papel subserviente do poder municipal
para com o capital, pois basta as empresas reclamarem que sua já elevada taxa
de lucro está abaixo do desejado que a prefeitura e os representantes da
burguesia rapidamente tentam corrigir o problema sangrando o bolso dos usuários
dos ônibus para deixar as empresas mais satisfeitas. São os interesses das
classes capitalistas que determinam os rumos dos transportes na nossa cidade e
são eles que se beneficiam de seu funcionamento. Vale lembrar que a cada ano
que se passa fica evidente que as promessas de melhoria no transporte coletivo
não passam de engodos, pois os serviços não melhoraram em nada. Ainda
utilizamos ônibus reformados e, principalmente, lotados nos horários de pico,
com funcionários mal remunerados e, consequentemente, insatisfeitos em suas
atividades.
O
transporte público no capitalismo é transformado em mercadoria, serve à lógica
irracional da ganância pelo lucro das empresas concessionárias. Assim, o
deslocamento dentro das cidades transforma-se em um produto comercializado,
marginalizando os interesses populares. O transporte coletivo, cada vez mais,
exclui os trabalhadores e a população do direito de irem ao trabalho, irem à
escola, ao médico, ao lazer ou de exercerem o seu direito de ir e vir sem uma
catraca para impedi-los. Aliás, o direito de ir e vir, tão sagrado para a
burguesia, é sistematicamente negado àqueles que não têm dinheiro para
exercê-lo. Cada vez mais o transporte transforma-se em controle social,
privando o grosso da população de transitar em determinados locais, dias e
horários. A liberdade de locomoção pelo espaço urbano é fundamentalmente definida
de acordo com a organização de classes presentes em nossa sociedade. Dessa
forma, quem tem mais dinheiro, obviamente os donos dos meios de produção,
movimenta-se mais e melhor, enquanto aqueles que têm menos, a classe
trabalhadora, pouco se movimentam e fazem isso da pior forma possível. Isso
quando não estão completamente imóveis, presos nas periferias das cidades por
não conseguirem pagar os altos custos das tarifas.
A
carestia dos meios de transporte coletivo agrava ainda mais a atual crise das
cidades brasileiras, que se encontram cada vez mais entupidas de carros
acostumados a levar um único passageiro por automóvel. Os congestionamentos
tomam cada vez mais o escasso tempo livre dos trabalhadores no deslocamento de
suas casas ao trabalho, ampliando cada vez mais a sua jornada de trabalho.
Vivemos sob uma forte ditadura do mercado onde as empresas automobilísticas
(entre outras), com gordos incentivos do Estado, ditam as regras e controlam o
espaço público.
Como
se não fossem poucas as dificuldades para se organizar e conseguir condições
melhores de vida, os trabalhadores e estudantes se deparam com falsos amigos do
povo, entidades oportunistas, mas que tem como objetivo único e exclusivo
manipular qualquer iniciativa autônoma
dos trabalhadores e estudantes contra as infames medidas dos governantes. Em
2005, a prefeitura de Vitória da Conquista anunciou que o preço da passagem dos
ônibus seria elevado de R$ 1,00 para R$ 1,20. Antes mesmo que o aumento fosse posto em prática,
milhares de estudantes tomaram as ruas da cidade para lutar contra a medida.
Estas manifestações ficaram conhecidas como R$ 1,20 NÃO! Sem demora, a União da
Juventude Socialista (UJS), organização ligada ao PCdoB, tentou se apoderar do
movimento. Daí em diante a UJS impediu o acesso ao microfone de quem não fazia
parte dos seus aliados, além de contribuir e aplaudir a prisão de manifestantes
pela polícia e, após uma semana de manifestações, sem o consentimento dos
manifestantes, fechou um acordo de aumento parcelado da tarifa com a
prefeitura, na calada da noite e a portas fechadas. Por mais inflamados e
radicais que sejam no discurso, na prática sempre vão buscar alguma forma de
levar os manifestantes a conciliar com os governos petistas. Essas entidades,
que não se restringe somente a UJS (o Levante Popular da Juventude, grupo que
possui afinidades com o PT, também possui práticas semelhantes), acabam
convertendo-se em novos agentes da disciplina social.
Nesse
processo se destaca também o papel de vilão dos sindicatos, que às escondidas
com os patrões tentam manipular os trabalhadores do setor de transporte. É
comum que os próprios patrões incentivem os dirigentes sindicais a provocar
paralisações em defesa das pautas históricas do movimento, como, por exemplo,
melhores salários, e por se tratar de uma reivindicação válida tem o apoio do
conjunto dos trabalhadores. Porém, a empresa acaba usando as exigências de
aumento salarial dos rodoviários como justificativa para aumentar o preço das
passagens, em uma manobra que busca colocar os funcionários contra a população
que utiliza o serviço. Estas experiências históricas demonstram que é preciso
sempre desconfiar daqueles militantes profissionais que buscam conquistar a
liderança do movimento, declarando ser representantes legítimos dos
trabalhadores.
Diante
disso, o transporte coletivo e seu atual quadro de crise tem um caráter
eminentemente político, pois é o poder econômico dos empresários que ditam as
regras na esfera do poder público municipal, e fazer frente à prefeitura, ao
Conselho de Transportes e às empresas de ônibus por meio da organização
autônoma dos trabalhadores e da juventude é o único caminho. Devemos buscar
formas de decisão popular que ultrapassem as esferas controladas por essas
caducas formas tradicionais. As assembleias podem ser um bom exemplo pois,
nelas, cada um de seus membros pode falar, propor e votar. Desta maneira, os
trabalhadores e estudantes podem evitar as tentativas de manipulação promovidas
pelos militantes oportunistas vinculados aos partidos políticos e aos
sindicatos. Além do mais, a ampliação da participação política nestes espaços
de decisão promove a auto educação política de seus membros, levando a tomada
de consciência das massas a respeito da origem dos problemas sociais e dos
meios para resolvê-los.
Uma
coisa é certa, não dá mais para ficar apenas assistindo de braços cruzados os
constantes ataques do capital contra os trabalhadores. Não podemos confiar no
Estado, pois este não passa de um mero representante político dos interesses
das classes dominantes (nacional e internacional). Enquanto não nos
auto-organizarmos para reagir a estes ataques seremos um alvo fácil para as
elites capitalistas. Esta é uma batalha que está apenas começando. Com a crise
econômica se aproximando, a burguesia tentará a todo custo empurrar para os
trabalhadores a conta de seus prejuízos. Precisamos nos preparar desde então
para este cenário político, pois apenas os trabalhadores podem dar um basta à
ganância capitalista que está levando o planeta inteiro ao colapso.
É
necessário, em primeiro lugar, demonstrar toda a insatisfação com essa situação
e tentar fazer a prefeitura recuar, exigindo a revogação imediata do aumento da
tarifa de ônibus. Porém, para além desta necessidade urgente, é preciso
levantar um debate muito mais amplo acerca da mobilidade urbana. Atualmente
existem muitos grupos políticos discutindo intensamente a possibilidade da
TARIFA ZERO por defender que o custeio do transporte público deve ser dos
capitalistas que exploram a classe trabalhadora; que as catracas devam ser
extintas. Há de se criar novas possibilidades recusando a natureza mercantil do
transporte público. A luta pelo direito ao transporte configura-se em lutas
contra a existência da tarifa, mas também melhorias na qualidade e ampliação do
serviço. Os meios de condução precisam ser vistos como um direito essencial aos
trabalhadores e de seus filhos, não como uma mercadoria a ser consumida.
Todavia, sabemos que esta discussão precisa ser amadurecida, principalmente se
levarmos em consideração os limites estruturais impostos pelo sistema
capitalista.
O
espírito de indignação toma conta da população trabalhadora e estudantil de
Vitória da Conquista que se sente de mãos atadas diante de tamanho descaso de
seus ditos representantes. Chegou a hora de tomar de volta o poder de decidir
sobre nossas vidas. Chegou a hora de dizer NÃO aos abusos dos políticos e
empresários. Vitoria da Conquista, com seus trabalhadores e estudantes, deve
dizer BASTA a essa situação e, de imediato, repudiar o aumento da tarifa do
transporte coletivo. R$ 2,80 NÃO!!!
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O presente texto foi elaborado pelo grupo de discussões que edita o Jornal
Faísca e representa o consenso da maioria dos seus participantes.