quinta-feira, 18 de outubro de 2018

A CRÍTICA DO VOTO CRÍTICO – PARTE 2


Por Eric Garcia
os posicionamentos deste texto são de responsabilidade do autor
(Ver também Parte 1 e Parte 3)

No texto anterior, expus uma base para os argumentos deste segundo. A aparente polarização política brasileira e a defesa de uma democracia enquanto um campo de batalha mais suscetível à luta revolucionária faz muitos defenderem, neste 2º turno das eleições, o voto no PT, mesmo com o comprometimento escancarado que este partido já demonstrou com o capital e a burguesia que o representa. Tudo isso numa tentativa de nos manter num regime político democrático mais “livre”, no qual supostamente nossa liberdade de se revoltar contra o sistema seria mais respeitada. Tudo isso faz com que muitos daqueles que se afirmam revolucionários defendam, através do voto, a manutenção de um mundo invertido ao fim revolucionário: um regime político específico do capital. Vejamos mais de perto estes argumentos.

A posição dos que defendem o voto crítico
O grupo brasileiro chamado Esquerda Marxista, que até 2015 estava aliado ao PT, e apenas aí resolveu se distanciar por perceber tardiamente que se tratava de um partido “operário-burguês”, fez uma análise durante o primeiro turno das eleições deste ano defendendo que “Não somos por ‘qualquer um menos Bolsonaro’”. Resolveram então apoiar a candidatura do PSOL, mesmo analisando suas propostas como reformistas, como a taxação sobre grandes fortunas e dar oportunidades iguais a todos. Entretanto, no segundo turno, retornam ao “apoio” à candidatura do PT, mesmo sem concordar com seu plano de governo. Insistem em dizer que “Votaremos no PT, sem nenhuma confiança e combatendo o programa de Haddad e do PT, apenas para barrar Bolsonaro”, posição totalmente contraditória à anterior.
Essa estratégia é baseada no argumento de que é preciso saber qual inimigo combater primeiro. Afirmam que não é uma questão de um “mal menor”, mas de poder derrotar um dos inimigos primeiro (e este seria a extrema direita). Afirmam também que não votar no PT seria um erro histórico idêntico a quando “o Partido Comunista, sob orientação de Stalin, se recusou a fazer frente única com o Partido Socialdemocrata Alemão, a quem chamavam de ‘socialfascistas’, contra o nazismo” na década de 1930. Infelizmente o grupo Esquerda Marxista perde de vista todos os problemas que foram as frentes únicas da época. Essa estratégia stalinista (detalhe inclusive apontado por eles) tem um papel fundamental de tragar a luta revolucionária transformando-a em pautas reformistas da social-democracia, fazendo morrer os objetivos radicais, substituindo-os por lutas que nunca levarão à superação do capital, como a própria defesa da democracia.
Parece muito esdrúxulo essa reviravolta na argumentativa, mas isso aparenta ser mais normal no meio pseudo-revolucionário do que se imagina. No texto de um militante do PCB, Gabriel Fazzio, publicado em março de 2018, ele faz a defesa da participação dos comunistas no processo eleitoral. Traz uma citação fossilizada de Marx e Engels escrita para a Liga dos Comunistas para defender a propaganda revolucionária no processo eleitoral. Se perde em um raciocínio doutrinário de congelar as análises históricas. É claro que muito do que Marx e Engels analisaram em suas épocas ainda é totalmente válido. Mas precisamos distinguir o que mudou. A participação democrática nas eleições não rendeu nenhum bom fruto para o terreno da luta revolucionária. Ao contrário, quando a social-democracia teve finalmente uma chance de estar no poder na Alemanha, traiu todos os revolucionários, matando um punhado deles, como aconteceu com Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht.
Mesmo defendendo a participação dos comunistas nas eleições, Fazzio defende apenas a participação crítica e de perspectiva operária, negando, inclusive, a possibilidade de apoiar a social-democracia petista. Afirma também que num possível segundo turno onde só haja as opções típicas da política burguesa, nenhuma delas merece o apoio dos revolucionários, e o voto deve ser anulado ou abstido. Contudo, o Comitê Central do PCB lançou nota apoiando o voto crítico no PT neste segundo turno. Outros partidos também aderiram ao voto crítico, como o PSTU e o PSOL. Este último, mesmo passando todo o período do primeiro turno criticando o programa do PT, faz vistas grossas a tudo que disse depois que Haddad resolve incorporar algumas propostas do seu candidato em seu plano de governo.
Todos esses grupos estão amparados na ideia de que devemos derrotar Bolsonaro nas urnas e partir para a luta revolucionária após isso. Alguns com o argumento de que um governo fascista pode emergir dessas eleições. Outros não vão tão adiante nessa expectativa, mas mesmo assim enxergam a possibilidade de um governo autoritário a partir disso. Afirmam que será quase impossível lutar pelo fim do capital em um regime político ditatorial, de extrema direita, autoritário, no qual não poderemos sequer falar de comunismo. Insistem em dizer que o apoio ao PT é apenas uma medida de desespero para não deixar o “protofascista” chegar ao poder, como afirma um militante do PSOL em seu texto “Derrotar o ultraliberalismo, votar contra Bolsonaro e construir a Revolução Brasileira” Mas se olharmos para a história desses partidos defensores de uma participação comunista nas engrenagens do parlamento, veremos que deve existir outro motivo para apoiarem o PT com um voto crítico.
            Mas este é um tema que trataremos na terceira e última parte deste texto.




Nenhum comentário:

Postar um comentário