Por Eric Garcia
os
posicionamentos deste texto são de responsabilidade do autor
Chegamos no final deste texto com uma questão ainda aberta.
Porque muitos grupos, indivíduos e partidos que se reivindicam revolucionários
insistem em apostar em uma via social-democrata como o PT, mesmo que
criticamente, para estabelecer um terreno mais favorável à luta pela revolução?
Será mesmo que esse apoio crítico é uma reação contra as ideias fascistas ou
autoritaristas? Analisemos um pouco mais.
O voto crítico não é contra Bolsonaro
É muito interessante notar como que a figura do Bolsonaro faz
tantas pessoas apoiarem o PT no segundo turno, mesmo que “criticamente”, mesmo
que com um enorme desgosto. De fato, Bolsonaro representa tudo que há de
retrógrado na humanidade, e isso faz essas pessoas apostarem no outro lado da
moeda. Mas porque dar apoio ao outro lado da mesma moeda? Mesmo os partidos que
acusam o PT de estar vinculado de corpo e alma ao capital apostam suas fichas na sua capacidade de frear a onda conservadora que
Bolsonaro representa. Mas será que essas pessoas e grupos políticos estão dando
um voto crítico no PT enquanto, de fato, uma última esperança contra o
Bolsonaro e sua proposta autoritária de governo?
Voltemos, então, no tempo. Há exatos quatro anos,
quando Dilma Rousseff disputava o segundo turno das
eleições presidenciais contra Aécio Neves.
Não havia, neste contexto, um risco iminente de
voltarmos à ditadura, não haviam levantes fascistas, propostas autoritárias de
governo e nem candidatos que demonstravam abertamente profunda admiração por
figuras que fizeram história como torturadores. Mas mesmo assim, pessoas e
organizações defenderam o mesmo
argumento do voto crítico. É o caso da Esquerda Marxista, que afirmou que: "A
tarefa de classe é derrotar Aécio e depois arrancar, nas ruas, as
reivindicações. Ou o PT rompe com a burguesia ou vai pagar caro”, e também do
pensador marxista José Paulo Netto, membro do PCB, quando disse que deveríamos
votar na Dilma com um dedo no nariz e o outro na urna, apenas para impedir que
o Aécio ganhasse.
Não era uma frente antifascista que motivava o voto crítico
antes. Da mesma forma, não o é agora. É uma aposta sem sentido em o governo
social-democrata “romper com a burguesia” e depois facilitar a luta
revolucionária, como afirmaram em 2014. Apostam que um governo de “esquerda” no
poder pavimentaria o caminho para a destruição de si mesmo. Uma ilusão total e
uma falta de perspectiva radical.
A partir disso podemos nos perguntar, como
que lutar sob um governo social-democrata seria melhor, já que, como apontou José Barata, “Os vários anos de hegemonia petista nas
lutas sindicais, e mais tarde no governo federal, produziram toda uma geração de trabalhadoras
e trabalhadores que são incapazes de conduzir suas próprias lutas”? Logo, a análise que fazemos
é que grande parte desse discurso do voto crítico é reflexo desse amansamento
que perdurou por mais de uma década em que o PT esteve no governo. Muitos dos
militantes de aspiração revolucionária estão se acomodando, conformados com a
situação política atual, gastando energias para manter a ordem democrática,
esperando que um levante revolucionário consciente e ativo ressurja como uma fênix das cinzas de um movimento
operário derrotado, mas que teve um passado glorioso de lutas e enfrentamentos
diretos.
Existe ainda uma parcela de indivíduos
que pensam a revolução como um horizonte possível, e não necessariamente defendem o voto crítico, demonstram um discurso
também conformista quando afirmam que nosso papel é apenas estudar, enxergar as
contradições, conhecer nosso inimigo, para nos prepararmos para uma possível
revolução que está por vir. Este é o caso bastante comum de um marxismo
acadêmico que há muito tempo se desvinculou totalmente de uma política de
classes. Indiscutivelmente, responder a pergunta “o que fazer?” é tão difícil
como dar a volta ao mundo em 80 dias em cima de um balão. Entretanto, por toda
experiência histórica que o movimento operário já passou, podemos ter muito
mais firmeza ao responder o que não fazer.
Sei que meio do caminho já é alguma
coisa, sei que o menos pior pode ser escolhido no lugar da catástrofe, pois as
condições concretas agem de forma brutal na vida de muitas pessoas, na mínima
condição da sobrevivência. A questão é: até que ponto a social-democracia é
menos pior que a extrema direita? É claro que não é correto afirmar que não
exista diferença entre ambos, mas ambos defendem o mesmo capital, apenas de
diferentes maneiras.
Apesar de todo esse apelo ao voto
crítico, a cada eleição que passa, os votos brancos e nulos, bem como as
abstenções, aumentam expressivamente no cenário eleitoral. Claro que isso não
significa necessariamente uma revolução
iminente, ou mesmo uma elevada consciência de
classe, mas demonstra que muitos estão descontentes com as opções dadas.
Inclusive, muitos são os relatos daqueles que foram votar, mas não quiseram
perder seu tempo nas imensas filas das zonas eleitorais.
Por isso, precisamos relembrar que o espírito revolucionário
deve combater de frente essa lógica conformada do “menos pior” ou do “melhor
campo de batalha”. Ambos os lados nessa disputa de governo são nossos inimigos.
Se não nos atermos a isto, poderemos estar fortalecendo àqueles que sempre
lutaram para minar todo e qualquer movimento revolucionário na história.
Correremos sempre o risco de, enquanto classe, ficarmos presos à velha
consciência cidadã de eleitores, perdendo de vista que existem possibilidades
além do horizonte eleitoral. Nossas energias, enquanto militantes, já estão
gastas em demasia por vivermos nesse momento tão contrarrevolucionário de
acirramento das condições de vida e de luta, por isso devemos nos preocupar com
pautas verdadeiramente revolucionárias, que podem nos levar, de fato, a uma
sociedade na qual o capital esteja superado!
Precisamos com urgência aprender a nos organizar enquanto
movimento autônomo das burocracias do Estado, sindicados e partidos
institucionais. Só através dessa auto-organização os trabalhadores podem ter
uma chance de se libertar da ditadura do capital que nos atormenta,
independente de qual regime político.
Nenhum
voto é verdadeiramente crítico!
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